As casas tornaram-se o centro do mundo e isso vai impactar o imobiliário 03 dez 2020 min de leitura Homification: pandemia valorizou a habitação, mas também mostrou que se pode trabalhar, comprar e muito mais desde casa. Desafio é criar espaços que façam sair. É a partir de um único local que grande parte da economia e da sociedade mundial se está a mover atualmente: o lar de cada um - e assim será ainda mais no futuro, com a tecnologia como aliada. Por motivos de saúde, durante a pandemia, as casas tornaram-se o centro do mundo e isso vai impactar o imobiliário, uma vez que se assumem como o ponto estratégico para viver, trabalhar, consumir e muito mais. E esta tendência de homification está a ter efeitos diretos no valor dado à habitação, mas também afeta as áreas dos escritórios, comércio e outros segmentos do imobiliário. Para quem faz negócios no setor - bem como para a generalidade das empresas, dos mais variados ramos de atividade -, é preciso entender estes comportamentos de base dos consumidores, dentro de uma perspetiva holística, se querem seguir em frente. Por isso mesmo, a Eurogroup Consulting Portugal e o Grupo Ageas Portugal decidiram juntar esforços e fazer um estudo pioneiro sobre Homification, que incide sobre Portugal e outros mercados. O idealista/news revela as conclusões em primeira mão, acompanhadas de análises de especialistas. O confinamento por causa da Covid-19 impulsionou a importância da casa, tornando-se o epicentro da vida das pessoas, nas mais variadas dimensões. “As nossas casas são, hoje, o centro do mundo, são o lugar onde tudo acontece”, confirma Laetitia Arrighi de Casanova, partner e responsável de Business Strategy da Eurogroup Consulting Portugal, em declarações ao idealista/news, lembrando que, com a ajuda da tecnologia, as atividades quotidianas como o trabalho, as compras e o lazer, passaram a ser feitas maioritariamente à distância, numa altura em que as saídas à rua voltaram a sofrer restrições. Perante a necessidade de se apurarem as mudanças nos valores, comportamentos e consciência social e ambiental da sociedade e em cada indivíduo, com o objetivo de reforçar o conhecimento e a capacidade de antecipação das empresas, nos seus mercados de atuação, com os vários stakeholders, e na sua gestão interna de recursos humanos, o estudo Observatório de Tendências, desenvolvido pelo Grupo Ageas Portugal e a Eurogroup Consulting Portugal, procurou identificar e fazer uma “análise das das implicações para os indivíduos numa perspetiva holística, enquanto cidadãos, consumidores e colaboradores”, tal como explica a responsável. “Estamos num mundo desconhecido, sem precedentes que nos permitam tirar ensinamentos de como agir perante os desafios que nos aparecem a cada dia”, argumenta Laetitia Arrighi de Casanova. Homification: a tendência que veio para ficar? Tendo como ressalva que ainda é cedo para fazer previsões sustentadas, os dados do estudo revelam que 15% dos inquiridos em Portugal consideram alterar o tipo ou local de residência, mais de metade deles para se aproximarem do campo, e um terço por razões financeiras, o que pode ser um alerta para os próximos meses. “Estes resultados são relativamente independentes do número de pessoas do agregado familiar, mas o fator idade é relevante, pois os mais jovens lideram esta intenção de mudança”, aponta a partner e responsável de Business Strategy da Eurogroup Consulting Portugal. Comparativamente com outros mercados – o estudo partiu do mercado nacional, mas foi replicado em países da América Latina (Argentina, Chile, Uruguai) e da Europa do Norte (Alemanha, Luxemburgo) - esta tendência é ainda mais forte ainda na América do Sul onde os inquiridos revelaram maior tendência para alterar o local/tipo de residência, com +30% dos participantes a responder que consideram fazê-lo, 9% para viver mais perto do campo e 9% para melhorar as condições de teletrabalho, mas 9% por razões financeiras. Também os inquiridos da Europa do Norte foram mais expressivos na resposta, com 26% dos participantes a admitir alterar local/tipo de residência e destes 15% a admitir fazê-lo para ir viver mais perto do campo. Pedro Lancastre, CEO da JLL em Portugal, reitera que, de um momento para o outro, “a habitação passou a ser o centro do “nosso mundo”, o que está a mudar o tipo de casa que as pessoas procuram, pretendendo-se cada vez mais casas com espaços exteriores, sejam varandas, pátios ou jardins”. Mas isso, garante, não implica necessariamente a mudança da cidade para o campo, “mas sim uma mudança nos fatores que mais se valorizam numa casa”. Para o responsável, isto já acontecia antes e veio para ficar, adiantando, aliás, que os promotores estão cada vez mais a incluir este tipo de espaços nos seus projetos, havendo um aumento da construção para a classe média. “Na habitação, destacaria ainda o reforço do arrendamento vs compra, que permite flexibilizar a experiência de procura de uma casa mais ajustada”, refere Pedro Lancastre. O impacto nos diferentes segmentos do imobiliário Na opinião do especialista em imobiliário não é, no entanto, só o segmento residencial que é e será impactado. O responsável da consultora internacional considera que a “pandemia pôs em evidência que a partir de casa podemos trabalhar ou comprar online, o que obriga a redefinir os espaços fora da casa, com um grande impacto noutros tipos de imobiliário”. A chave agora, diz, é criar espaços que nos proporcionem uma experiência, que nos motivem a sair de casa. E dá exemplos: “os escritórios estão em fase de grande mudança, porque o teletrabalho veio para ficar e é preciso que proporcionem uma melhor experiência aos colaboradores, algo que os leve a querer ir para o escritório. Serão pensados com mais design, mais espaços colaborativos, mais tecnologia; no retalho, a lógica é semelhante. É um tipo de imobiliário que tem que se transformar também para proporcionar as melhores experiências às pessoas, tirá-las de casa e conseguir “vencer” a conveniência de comprar online. Claro que, o aumento das compras online veio para ficar, também com um impacto positivo no imobiliário de logística, do qual se exige maior qualidade e proximidade ao ponto de entrega”. Para Pedro Lancastre, a chave desta tendência da Homification e dos seus reflexos nos diferentes segmentos do imobiliário “é o equilíbrio entre a conveniência e experiência”. “A tecnologia permite-nos hoje a conveniência de fazermos tudo (ou quase tudo) a partir de um só local, o qual se tornou, por questões de saúde, a nossa casa. Por isso, os restantes espaços têm que nos “oferecer” que a possibilidade de ter uma experiência, algo que nos motive a ir até lá”, remata. Teletrabalho, um catalisador de mudança E o teletrabalho foi, sem dúvida, uma das maiores mudanças decorrentes da crise sanitária, denotando-se uma maior flexibilidade no que diz respeito ao local a partir de onde é possível trabalhar. De modo geral, os dados mostram que os portugueses registam uma boa apreciação da sua experiência, especialmente os inquiridos mais jovens. Mais de 62% admitem que gostariam de trabalhar a partir de casa num futuro próximo, optando a maioria por uma percentagem superior a 50% do tempo. No que diz respeito à adaptação ao novo espaço de trabalho, os inquiridos consideram o processo de criação e organização do novo escritório relativamente fácil, com uma nota de três em quatro pontos. A tecnologia foi considerada uma aliada, apresentando os inquiridos um nível de conforto de 3.11 em quatro. Os inquiridos também avaliam bem as empresas pela sua capacidade de adaptação de novas formas de trabalho durante a crise sanitária, com 77% a considerar que a empresa foi capaz (total ou parcialmente) de responder ao desafio. Apenas menos de 10% admitem que a empresa poderia ter feito melhor, sendo os mais novos os que expressaram mais esta opinião, de acordo com Laetitia Arrighi de Casanova. Para a partner e responsável de Business Strategy da Eurogroup Consulting Portugal, as formas de trabalhar, de coordenar as equipas, de comunicar com os colaboradores e de os motivar tem hoje contornos diferentes e "estamos ainda aprender a reagir da forma mais eficaz para dar o maior apoio aos colaboradores e receber o que melhor que cada um tem para dar”. “As empresas foram bem avaliadas na resposta que deram no primeiro momento da crise, mas agora tentam a cada dia encontrar o seu modelo navegando à vista para combater o cansaço da situação de pandemia, dar propósito aos seus colaboradores e ensinar e dar ferramentas as suas chefias para enquadrar e motivar as suas equipas usando novas técnicas e ferramentas”, refere. Compras online ao rubro, com foco na casa Segndo o estudo, também as compras online a partir de casa experimentaram um aumento como consequência do confinamento. Mais de metade dos inquiridos admitem ter realizado mais compras online nos últimos seis meses, tendência com maior expressão na população mais jovem, em que 70% dos inquiridos dos 18 aos 24 anos aumentou, por oposição aos 47% dos inquiridos com mais de 55 anos. Esta tendência é para continuar para a maior parte dos inquiridos, com apenas 16% a considerarem voltar às lojas físicas como fonte principal das suas compras. E segundo Laetitia Arrighi de Casanova, o foco direcionou-se para a aquisição de produtos e serviços para casa (11%), reforçado pelas novas ofertas de bens e serviços, que vem logo a seguir das despesas de alimentação e saúde. “É de salientar em relação ao consumo, que ocorreu já uma alteração das cadeias logísticas. As cadeias estreitaram-se tornando-se menos globais, mais locais”, explica. De acordo com a responsável, as tendências mostram que os indivíduos reforçaram a sua presença nas lojas de proximidade e online, estando estas cada vez mais preparadas para responder eficazmente a esta alteração de comportamento como são evidência, por exemplo, o desenvolvimento de “mercados” on-line. “Pese embora esta nova realidade seja muito elencada na tecnologia, leva ao acréscimo do risco de gap entre quem tem acesso ou não às tecnologias, de quem as domina ou não, sejam empresas, PME ou indivíduos. Esta situação é tão mais visível na educação e nos abandonos escolares em famílias desfavorecidas”, frisa ainda. De acordo com Laetitia Arrighi de Casanova, aceleração dos modelos de transformação digital das empresas é um facto que está à vista de todos e que permitiu que os negócios e as pessoas se mantivessem ativos mesmo em situação de confinamento. No entanto, “a adoção de uma realidade distinta daquela a que estávamos habituados gerou, também ao nível da organização do trabalho e dos modelos de gestão uma necessidade absoluta de mudança”, conclui. Fonte: Idealista Partilhar artigo FacebookXPinterestWhatsAppCopiar link Link copiado